o novo amanhã de guilherme arantes
Medieval e moderno, mitológico, gótico, mágico, cinematográfico — e romântico, sempre, claro —, ousado, e um tanto quixotesco na busca de um graal musical… este é o novo Arantes d’A desordem dos templários. Que nos remete a aventuras de missionários, cavaleiros, soldados, bárbaros, bandeirantes, piratas, avatares, astronautas sem naves e outros mercenários, mas também de trovadores, seresteiros, dândis, camponeses, heróis… todos desbravando terras musicais nunca (ar)antes exploradas.
Guilherme Arantes foi um dos compositores mais importantes de minha fase de transição da adolescência pra vida adulta (inclusive, havia escrito sobre ele anteriormente em meu blogue: aqui). Já curti muita dor de cotovelo das boas ouvindo os hits desse mestre da canção pop; embora colocá-lo apenas nessa prateleira seja reduzir sua capacidade — e inteligência — musical. Com os anos, fui me afastando de seu som, mas o carinho sempre permaneceu. E também porque Guilherme é um dos raros casos de compositores paulistanos que tiveram projeção nacional.
O tempo chega pra todos; Guilherme não possui mais aquela cabeleira esvoaçante que enlouquecia seu fã-clube, tampouco sua voz é a mesma. Ele, como muitos, foi paulatinamente se desiludindo dos caminhos do sucesso e, talvez, “perdendo a mão”. Não à toa, muitos de sua geração — e da anterior a esta — foram definhando e acabaram engolidos pelo buraco negro da indiferença dos ouvintes, com o empurrãozinho dos novos tempos, que transformaram as grandes gravadoras em meros gigolôs musicais ávidos por sucessos instantâneos e descartáveis.
Claro, algozes e vítimas pagam a pena do mesmo veredito; a própria relação dos ouvintes com a canção passa por um processo de transição. A facilidade de ter tudo a um clique de mouse transforma a audição que até há bem pouco tempo era quase sagrada em algo banal. Se em 15 segundos uma canção não consegue a atenção desses ouvidos desatentos e impacientes, acaba indo parar no limbo da história — e com agá minúsculo.
Por sorte, nem só de derrotas vive o compositor. Muitas vezes, pequenos desvios na trajetória desses artistas possibilitam que eles façam as pazes com o ato de compor — que exige tesão tanto quanto o ato do amor —, como a hospitalização de Gil, a nova namorada de Chico e, no caso de Guilherme, suas andanças recentes pela Espanha, fonte de onde bebeu fartamente e que desaguou neste maravilhoso disco, que me emocionou muito. Surgiu dele um letrista ousado e poético e um músico sem medo de parecer passadista — pois sabe que na vida tudo passa… e volta.
Cada canção deste novo trabalho é quase um conto. E um encanto. E, como o caos nos ensina a buscar novas ferramentas de transcendência — e os dias atuais são prova disso —, desejo ao templário Guilherme que a desordem de nossos tempos lhe possibilite cada vez mais se aproximar de seu graal — grau? — desejado. Pra alegria de nossas emoções.
Léo Nogueira
Outubro de 2021