entrevista com célio mattos

Celio Mattos é “MÚSICO”.  Sim, com todas as letras maiúsculas. 
Ainda jovem foi fazer um trabalho na França e por lá ficou.  Uma pena para o Brasil e uma sorte para os franceses, que lhe dão um tratamento digno de um grande mestre.
Bem, é covardia falar sobre esse “gênio”, pois tive a honra de conhece-lo pessoalmente, e agora deixo com vocês suas palavras.
Boa leitura.

Por:  Solange Castro

Solange Castro – Celio Mattos, grande músico e compositor, nem imaginas a alegria que tenho em poder conversar um pouco contigo..
Bem, você foi gerado com notas e harmonias, nasceu com música no sangue.  Quando foi que começou a se interessar pela música?

Célio Mattos – Bom dia, Solange. Desde criança… havia um piano lá em casa, minha mãe tocava um pouco. Então a partir do momento que eu consegui alcançar as teclas, eu comecei a improvisar umas melodias. Lá em casa se escutava muita música também: daí as primeiras influências… Eu nasci em 1960, na vitrola tocava Cauby Peixoto, Ângela Maria, Roberto Carlos, Elvis Presley, Beatles, muita música clássica… depois veio o tempo dos festivais. Com 8 anos eu ficava ouvindo Tropicália, Sgt Peper’s, Martinho da Vila… Com 6 anos comecei a estudar piano, isso durou dois anos (um braço quebrado me obrigou a parar), aprendi a ler e escrever música. Quando voltei a me interessar a tocar um instrumento, já com 12 ou 13 anos, foi o violão que eu adotei.

Solange Castro – Escola imbatível, também tive o privilégio de conhecer “Música” em casa, não apenas “as antigas”, oferecidas pelos meus pais, que tinham o mesmo gosto dos seus, mas, com duas irmãs mais velhas, dom diferença de oito e quatro anos, minha infância foi permeada também de muita Bossa Nova, e, claro, das eras de Ouro dos Festivais, isso fez toda diferença no meu crescer.
E quando você optou por ser profissional da música?

Célio Mattos – Em 1977, com 16 anos. Nessa época eu morava em São Paulo, uma noite, entrei num barzinho da rua Augusta, tinha um violão encostado num canto, perguntei se podia tocar um pouco, me responderam que sim. Comecei a tocar, pessoas foram chegando, ficando, apreciando, cantando comigo, uma hora depois eu parei, levei o violão de volta pro canto dele. O dono do bar então me propôs: “se quiser pode ficar tocando, eu lhe pago, estou procurando um músico…” Nesse bar, que eu não lembro o nome (risos) eu fiquei uns dois anos. Foi aí que começou.

Solange Castro – Daí até ir para a França, como foi?

Célio Mattos – Depois de Sampa, fui para o Rio de Janeiro, 1980… E fiz muita coisa relacionada à música, até 1987, quando vim para a França. Montei bandas de rock e de MPB, toquei em bailes, toquei na feira de São Cristóvão, estudei violão clássico, cursei composição e regência na UFRJ, fiz parte da banda Nativa, do Sidney Mattos. E, em paralelo, trabalhei no Ministério do Trabalho.
Um dia, logo depois do ensaio da Nativa, na casa do Sidney chegou o Ozias (Gonçalves), baixista, dizendo que estava tocando num navio, o Eugênio Costa, que estava fazendo escala no Rio e depois voltaria para a Europa. Como ele não pretendia fazer a viagem de volta, estava procurando um substituto. O nome da banda era Terra Brasil e fazia um espetáculo típico de música brasileira. Como eu já tinha contatos na Europa (França), eu abracei a oportunidade e vim, no início era para ficar três meses… Isso foi em início de 1987. Este ano (2020) completo 33 anos de França.

Solange Castro – Trinta e três anos não é pouco tempo, a experiência é longa.  Vamos tentar detalhar: como é a vida de um “Músico” na França?  Quais as principais diferenças entre o “respeito” que é concedido à Arte na França e no Brasil ao seu ver?

Célio Mattos – Daria para escrever um livro (ou vários) a partir dessa questão. Em primeiro lugar: a música, a cultura, de uma forma geral, aqui na França, é tratada de uma forma distinta em relação ao Brasil. O estilo, a corrente musical, o repertório, a “nacionalidade” do artista influenciam bastante. Também: cada músico, cada artista, cada pessoa tem uma história de vida diferente… Há, porém, uma diferença fundamental entre a França e os outros países da Europa (e do mundo), que é em relação ao estatuto do artista músico: aqui é melhor ser assalariado de uma produção, em vez de ser autônomo, o que pode parecer paradoxal. Há um sistema chamado “intermitente do espetáculo”, e inclui músicos, atores, técnicos, roadies, artistas de circo, de produção, de cinema, etc. Deixo aqui um link para um site que explica o que é e como funciona, é em francês, mas um bom tradutor online resolverá, já que a linguagem é técnica.
https://www.pole-emploi.fr/spectacle/
Além disso, há também muita música “informal”: tocar na rua, passar o chapéu num bar (não existe sistema de couvert aqui), festas particulares, restaurantes e outras casas do ramo que não declaram o trabalho. Isso tudo é ilegal. Mas…

Solange Castro – Mas???
Bem, estamos em plena “pandemia” mundial.  Mesmo assim, a maioria mantém a esperança, principalmente nós que vivemos em função da Arte.
Qual suas previsões pela frente?

Celio Mattos – Com a pandemia que o planeta atravessa é certo que muitos projetos precisaram mudar de forma, outros se tornaram inviáveis e outros nasceram dessa situação. Não posso indicar datas precisas de lançamentos. Hoje, em julho de 2021, tenho pela frente e espero que tudo tenha sido realizado num prazo de um ano: um álbum novo da Jiripoca Band, um projeto solo (intitulado “Tanto”), uma colaboração com Patricia Tinôco, um espetáculo de músicas para crianças (Catou & Mara), entre outros. É óbvio que darei todas as notícias ao Toada. Obrigado!

Solange Castro – Nós é quem agradecemos, Célio – boa sorte nessas novas jornadas que te esperam,  mande sempre notícias e fique bem – sei que você se cuida, continua assim.  E quando puder vir ao Brasil nos veremos, com certeza.

Grande beijo, e venha sempre, a casa é sua…


julho de 2021

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